O problema do desmatamento é outro importante problema ecológico. As grandes florestas surgiram no sedimento glacial e logo criaram mais solo para outras florestas e, assim por diante. Este processo contínuo foi interrompido pela primeira vez uns duzentos anos atrás quando os homens cortaram a maioria das matas (1). O desmatamento irracional acelerou-se principalmente nos últimos decênios do século XX e, entre 1950-1980, 25% de florestas da Terra foi devastada. A floresta Amazônica, uma das principais do mundo já possuá em fins de 1989, 404 mil quiometros quadrados desmatados e, nos últimos vinte anos a cobertura vegetal nativa do Paraná baixou de 83% para apenas 5%, enquanto a Mata Atlântica que em 1830 se achava íntegra e oferecia uma extensão transversal da ordem de 300 km a altura do meridiano do Rio de Janeiro foi "cabalmente destruída como bem de consumo, na sua flora, fauna, equilíbrio fluvial, regime meteorológico, tudo em menos um século e meio"(2). Na Europa Setentrional, no leste dos Estados Unidos e no Japão as áreas florestais foram substituídaspor campos de cereais e o reflorestamento de terras erosadas visando o restabelecimento do ambiente natural tornou-se muito caro e lento (3).
A Amazônia é um dos grandes exemplos do problema do desmatamento e da depredação do meio-ambiente. Uma grande literatura tem marcado a análise da Amazônia (4) e o ecossistema representado pela Amazônia tem merecido especial destaque, mas algumas conclusões e propostas estão carregadas de ideologia e interesses escusos.
Também alguns projetos governamentais para facilitar a ocupação da região Amazônica através da atuação de grandes estatais aparecem carregados de ideologia como indicam os dois autores citados aqui:
"A política ambiental do Estado, em suma, é um aparelho de despolitização do ambiente, parte de uma ofensiva ideológica que visa a facilitação política da implantação de grandes projetos na Amazônia. Tal ofensiva pode ser acompanhada na proliferação de anúncios e matérias pagas da Eletrobrás, Companhia Vale do Rio Doce e congêneres onde se apregoam os zelos ambientais e sociais de obras como Itaipu, Tucuruí, Projeto Ferro-Carajás, etc.; na instituição de prêmios de ecologia e no financiamento de documentários 'ecológicos' por estas mesmas agências..."(5).
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- Bill McKIBBEN - O fim da Natureza, p.41.
- LAROUSSE CULTURAL - Brasil A/Z. p. 261 verbete desmatamento. No Brasil o desflorestamento começou já em 1504 com a remessa para Lisboa de 700 toras de pau-brasil. Cf. Hélio de Almeida BRUM - "Biomassa: alternativa energética brasileira" in CM. Rio de Janeiro, XXV (299): 21-30, fev. 1980, p.24.
- Glycon de PAIVA - "Complexo Ecológico, miséria urbana e atividade econômica" in CM. Rio de Janeiro, XXXI (363): 15-30, junho 1985, p. 16.
- Arnold J. Toynbee- A Sociedade do Futuro, p.37.
- Cf. a respeito, Angelo BITTENCOURT - "Aspectos da pesca na Amazônia" in BSBG, 1:137-144, 1950-1951; Betty J. MEGGERS - Amazônia: a ilusão de um paraíso, passim; P. T. ALVIM - "Perspectivas de produção agrícola na região Amazônica" in Interciência. Caracas, 3 (4): 243-251, 1978; V. M. AYRES e R. Best -"Estratérgia para conservação da fauna Amazônica" in Acta Amazônica. Manaus, 9 (4): 81-101, 1979; Arthur César F. Reis - A Amazônia e a cobiça internacional: IDEM - "Porque a Amazônia deve ser brasileira" in Revista Brasileira de Política Internacional, XI (41/42): 7-16, 1968; Omar Emir CHAVES - "A Amazônia brasileira" im CM. Rio de Janeiro, XXXV (417): 3-21, dez. 1989; E. F. MORAN - A ecologia humana das populações da Amazônia. Petrópolis, Vozes, 1990; K. HUECK - As florestas da América do Sul. São Paulo, Polígono, 1972; G. de PAIVA - "Declarada a guerra Ecológica na Amazônia" in Boletim FBCN, v.15: 152-165, 1980.
- Eduardo Viveiros de CASTRO e Lúcia ANDRADE - "Obras do destino: o ambientalismo oficial" in Tempo e Presença, 230: 6-8, 1988.